"Que te devolvam a alma homem do nosso tempo. Pede isso a Deus ou às coisas que acreditas: à terra, às águas, à noite desmedida. Uiva se quiseres, ao teu próprio ventre se é ele quem comanda a tua vida, não importa... Pede à mulher, àquela que foi noiva, à que se fez amiga. Abre a tua boca, ulula, pede à chuva. Ruge como se tivesses no peito uma enorme ferida, escancara a tua boca, regouga: A ALMA. A ALMA DE VOLTA." (Hilda Hilst)



08/03/2011

Uma semana no paraíso (parte 2): Filha de Tartaruga, filha da Mãe Terra é!

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Na minha viagem para Fernando de Noronha, durante um mergulho pela baía do Sueste, eu encontrei lindos peixes coloridos - grandes, pequenos, amarelos, roxos, azuis... até um tubarão passou perto de mim! Mas eu soube que por lá havia tartarugas marinhas, e ainda não tinha visto nenhuma... Então eu pedi mentalmente, numa espécie de oração: “tartaruga, por favor, apareça para mim, você é uma representante da Mãe Terra e sua ancestralidade, se você vier aqui eu vou poder escrever sobre você e seu simbolismo no meu blog, e contar sobre o nosso encontro!”... e não é que no minuto seguinte ela apareceu?
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Linda, enorme, ela veio para perto de mim nadando com o seu filho, e depois o filho dela se afastou e ela veio bem abaixo de mim, e nós nadamos juntas por um bom tempo, eu em cima e ela embaixo, ela até deixou que eu acariciasse o seu casco algumas vezes, retirando a areia que encobria os seus desenhos! Ela ia para o fundo do mar, depois ia subindo até a superfície e colocava a cabeça para fora para respirar, e voltava para o findo do mar... A emoção de nadar com uma tartaruga marinha, tão grande, tão generosa na sua aproximação, foi indescritível, me senti em estado de graça! Daí, agora só me resta escrever sobre o seu simbolismo, e compartilhar com os leitores a magia e alegria desse encontro...
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“Tartaurga... Grande Mãe
Alimente meu espírito
Agasalhe meu coração
Para que eu possa servi-la também...”
(J.Sams)
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Carminha Levy e Álvaro Machado, no livro: A Sabedoria dos Animais, colocam a tartaruga como um símbolo relacionado à “sustentação da Mãe Terra”, ela seria a “Senhora das Hierarquias”. A sua “carapaça redonda como o céu e a face plana como a terra” fez com que, para os povos africanos, chineses e japoneses, ela fosse representante do próprio universo, como se o carregasse em suas costas. Na China, por exemplo, ela “aparece como sustentáculo das águas primordiais”, e em tribos norte-americanas é relacionada à “força de renovação trazida pelas águas, personificação da energia feminina”.
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Segundo esses autores, na Índia ela também tem relação com Vishnu, que às vezes pinta o seu rosto de verde “para, lembrando a tartaruga, simbolizar o poder de geração, pois ele surgiu das primeiras águas, carregando a Terra nas costas.” Entre povos indígenas norte-americanos, altaicos, turcos e mongóis, ela está “ligada à história dos semideuses que criaram o mundo (a Avó dos homens, os heróis gêmeos antagonistas, etc.). Ela os salva, os alimenta e os conduz, tornando-se assim intermediária entre a lama primordial, fértil, e os heróis que o Céu Criador entregou à Terra”. Esses autores observam ainda que Hermes criou a cítara ao ver o casco de uma tartaruga de cabeça para baixo, tornando a tartaruga um “emblema da arte da alquimia através dos tempos.” Para algumas tribos amazônicas, a tartaruga simboliza longevidade, sendo também “um emblema feminino”, sendo “associada á forma da vagina e ao papel de esposa do deus Sol”.
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De acordo com Sams e Carson, no livro Cartas Xamânicas, a tartaruga é o símbolo mais antigo que existe, de acordo com as tribos norte-americanas, constituindo-se “na personificação das deusas e também da eterna Mãe, da qual derivam nossas vidas.” Os autores colocam ainda que o símbolo da Tartaruga nos auxilia na conexão com a terra,, nos convidando a “honrar a fonte curadora” presente em nosso interior, favorecendo uma maior conexão com a Terra, e a usarmos “as energias da terra e da água – as duas moradas da Tartaruga” – para olhar a nossa “situação presente de vida fluindo de maneira harmoniosa” e fincando os nossos pés na terra, extraindo dela o nosso poder. A Tartaruga nos ensina a ter os “pés no chão” quando estamos no “mundo da lua”, nos ajudando ainda a focar, desacelerar, relaxar, e com a sua sabedoria nos ensina ainda a esperar com paciência pelo tempo da colheita: “A Tartaruga enterra seus pensamentos na areia, como faz com seus ovos, deixando ao sol a missão de chocá-los”.

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O símbolo da Tartaruga no meu momento atual de vida, ou...
como a Natureza dialoga conosco quando nos sintonizamos com sua linguagem repleta de amor e sabedoria (como São Francisco de Assis já sabia...)

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No dia anterior à minha viagem para Fernando de Noronha, o meu filho me ligou pedindo uma corrente com uma medalha de proteção, pois o escapulário que eu havia dado a ele no Natal tinha a corrente muito grande para ele usar sempre, como ele me disse. Eu achei muito interessante ele, um rapaz de 19 anos, fazer questão de usar uma medalha de proteção dada por mim, sua mãe... Eu me separei do pai dele quando ele tinha 6 anos, e desde os 15 anoso pai quis que ele fosse morar em sua casa, e ele concordou. É claro que eu senti a falta da convivência diária com ele, meu único filho que eu amo de paixão, mas achei que nessa idade seria mesmo muito bom para ele estar mais perto do pai, e decidi que isso seria bom para mim também, era como se eu entrasse na minha segunda adolescência...
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Diante do seu pedido, me dei conta do que isso significava: já que eu não estava mais convivendo com ele no dia-a-dia, era como se a medalha de proteção, com a imagem de Nossa Senhora, ficasse protegendo ele em meu lugar! E eu sabia, desde o dia em que me dei conta que estava grávida, que um dia ele voaria do meu ninho, em busca do seu destino...



Como eu sabia disso (além de ser uma verdade tão óbvia, mas tão dificilmente assimilável por nós, mulheres em sua face Deméter)? Através de um sonho que tive antes mesmo de ter a confirmação por exames que eu estava grávida. Nesse sonho, um pássaro pousava em minha mão, eu fazia carinho nele, ele voava, e depois de um tempo ele retornava para as minhas mãos, eu o acariciava, ele voava de novo... E assim foi!
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“Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”
(Rubem Alves)
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Recentemente eu tive um sonho com um pássaro parecido com esse, mas era um pássaro bem maior, e acontecia o mesmo, só que ele não vinha para a minha mão: ele vinha para perto de mim, ficava parado no chão ao meu lado algum tempo ouvindo o que eu dizia (era como se eu estivesse dando alguma aula para um grupo num bosque), voava, depois voltava, e num certo momento ele me deu um abraço (o bom dos sonhos é que tudo pode acontecer, até o abraço de um pássaro com suas asas)!
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Mas voltando ao que eu dizia antes, eu fiz questão de levar para o meu filho a corrente com a imagem de Nossa Senhora antes de viajar, e me dei conta do que eu já sabia e já tinha vivenciado com relação à minha mãe: toda mãe é representante da Grande Mãe, e chega a hora em que essa Grande Mãe atua a partir de dentro, de forma simbólica, quando o filho cresce psicologicamente e ganha autonomia, e então não precisa mais de nós como mães (exceto em certos momentos em que necessitamos de seu colo para ajudar a curar a nossa criança ferida, mas aí a mãe pode ser a mãe mesmo, a amiga, o namorado, a terapeuta...). E se o amor tiver sido cultivado com respeito e doçura durante a fase de maternagem, a relação mãe-filho pode se transformar numa bela e profunda amizade...Como disse Richard Bach em seu livro Ilusões (que eu li na adolescência e nunca me esqueci de alguns pensamentos colocados lá): “o que une uma verdadeira família não são os laços de sangue, mas de respeito e a alegria pela vida um do outro”...
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E assim, chega o momento em que é imprescindível nos reconhecermos como filhos do Universo, da Grande Mãe Terra e do Grande Pai Céu, e procurarmos a nossa própria maneira de estarmos vinculados a eles, a partir do nosso mundo interior. Então, podemos começar a reescrever a nossa história, a nossa lenda pessoal, que nos mitos e contos corresponde à saga dos heróis, quando eles saem de casa e começam finalmente a viver suas próprias vidas, o que é marcado pelos ritos de iniciação dos povos ancestrais. Como diz Pedraza, em seu livro Sobre Eros e Psiqué: “a relação de Psiqué com os seus pais não é o problema a ser enfocado quando se trata de seguir o chamado da alma”. O que resta é perdoar os pais pelos seus erros, que acontecem sempre pelo simples fato de eles serem humanos (e perdoar, como ouvi no outro dia, é abrir mão da expectativa de que as coisas pudessem ter sido diferentes, e aceitar o que foi como um fato com o qual devemos lidar da melhor forma possível), e ter o mesmo sentimento de auto-perdão, de compaixão por eles e por nossa própria humanidade imperfeita por definição, aprendendo a lidar com as nossas sombras e dificuldades com corajosa humildade, e a fazer bom uso dos recursos que recebemos para a lida com a vida (desenvolvendo e expandindo os nossos potenciais, convidando assim os deuses a estarem junto de nós em nossa trajetória existencial), colocando-os, e nos colocando, a serviço dela, como nos ensina tão bem Dioniso... ou seja: a dimensão do sagrado, antes projetada nas figuras parentais, precisa ser realocada, precisamos encontrar no mundo, e no Cosmo, a nossa casa, e um contato íntimo e pessoal com o sagrado é vivenciado então, à maneira de cada um.
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A natureza, a arte e os mitos sempre foram, para mim, um caminho de conexão com essa dimensão, e por isso não posso viver sem o contato com a beleza e com a orientação interior que provém daí... Por isso também, de tempos em tempos, como Merlin, preciso me recolher na floresta, voltar para o útero de Iemanjá para de lá retornar renovada, mergulhar nos livros e escrever os meus próprios livros e poemas, além de dançar, pintar, fazer Yoga, trazendo também a floresta e o mar para dentro da minha vida cotidiana, sempre que possível!
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Esse reencontro com a Grande Mãe, num nível mais profundo do que havia se dado antes, aconteceu na minha viagem para Fernando de Noronha, através do meu encontro tão especial com a Grande Tartaruga Marinha... A minha criança interior, carente de acolhimento pela ferida do abandono que precisava finalmente cicatrizar, encontrou nela o colo de que tanto necessitava para se reconciliar com a alegria de viver, com a ajuda e como coroamento de meu processo terapêutico, já que eu estou num dos momentos de renovação em minha vida... Pois se meu filho está finalmente se tornando um homem maduro, aprendendo a se responsabilizar pela sua própria vida, e a ser um bom pai e uma boa mãe para si mesmo, eu tenho que me preparar para a qualquer momento ser avó! Não que seja para já, não se trata do fato concreto em si, mas potencial...
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Eu, assim como ele, estou entrando num novo nível de amadurecimento psicológico (que é como se fosse sim uma segunda adolescência) – nos antigos rituais de iniciação, os pais do jovem também se preparam para essa transformação, num contato mais significativo com a ancestralidade. E isso significa, portanto, honrar os meus ancestrais: minha mãe, minha avó... até chegar na ancestralidade da alma, mais uma vez honrando a Grande Mãe Terra, fortalecendo os vínculos com as minhas raízes, que vão do âmbito pessoal ao transpessoal, me reconhecendo como filha do Universo e me colocando a serviço do projeto cósmico para a minha alma nessa passagem pela Terra (como diz a minha querida amiga e aluna Suely Marqueis, que é astróloga, o mapa astral consiste em tirar um retrato disso, do projeto cósmico que somos, mostrando a que viemos para cá!).
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Então, diante disso, resta agradecer á minha mãe, que morreu com um pouco mais da idade que eu tenho hoje, pela matéria prima sobre a qual posso trabalhar e transformar, dando a ela a minha própria face de mulher, por viabilizar através de seu ventre e de seus cuidados, que eu estivesse aqui, reconhecendo nela uma mulher que fez o seu melhor, apesar do seu feminino tão ferido... O meu trabalho com o Feminino e com a cura de suas feridas (e a arte é a linguagem do feminino) provavelmente se deve em grande parte a isso... Agradecer à minha querida avó paterna, vovó Maria do Carmo (com quem convivi mais de perto, e com quem eu sou tão parecida fisicamente - os mesmos cabelos negros, os olhos fundos, até na sinusite...), tão querida, camponesa vinda da aldeia de Lamoza (Portugal), que morreu com 103 anos, completamente lúcida e ativa (nunca deixou de morar em sua casa, cuidando da sua horta, galinhas, cozinhando a sua comida e bebendo 1 cálice de vinho em cada refeição!), uma verdadeira Velha Sábia aquariana, que foi quem me ensinou a rezar, a amar e cultivar a terra, e que continua a me acompanhar com o seu olhar carinhoso, a partir das estrelas...
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Minha sobrinha, vovó Maria, meu sobrinho e meu filho... lindos!
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E por fim, agradecer imensamente à Mãe Tartaruga, por me colocar em seu casco e me reapresentar à beleza e aos encantos desse profundo Mar Primordial, de onde tudo vem e para onde tudo retorna quando necessita se renovar... Em uma das histórias de Iemanjá, depois de criar os seus filhos e eles já estarem grandes, casada há anos com um rei, pede a ele um tempo para retornar ao mar... Mas ele não entende essa sua necessidade de recolher-se para reinventar-se, e manda os seus guardas atrás dela para trazê-la de volta. Quando vê-se nessa situação, ela quebra uma garrafa que o seu pai Olokum (orixá dos oceanos) lhe deu quando ela se casou e foi morar longe do mar, dizendo-lhe que, se precisasse dele por estar em apuros, quebrasse a garrafa... E assim as águas que escorreram da garrafa levaram Iemanjá de volta para o mar, de volta para casa, rumo ao reencontro de sua essência, de seu Feminino... Agora me dou conta de que essa viagem para Fernando de Noronha significou para mim isso também - eu precisava me reescrever, criar uma nova história para a minha vida pessoal, me reinventar... O que me remete a um poema que escrevi em 1994, de frente para o mar de Ubatuba, na pousada O Refúgio do Corsário:
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MAR
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Ouço o seu barulho,
mas no fundo o soar é oco e úmido:
Mar a me acrordar...
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Com o sal solto nas águas,
arde por dentro o seu toque,
como um sol a queimar...
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Acesa, como chama de vela,
deito-me em seus braços,
com o corpo a boiar e a alma a flutuar...
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Mergulho em suas águas como quem volta prá casa
(caracol entrando na concha)
Ostra a perolar...
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É no seu mistério e silêncio
que teço minhas vestes ao contrário:
ao desnudar-me, componho-me,
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Como saída de um orgasmo,
nascida e amolecida,
feita de novo argila,
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Piso a terra e ergo a coluna,
coração batendo, respiração ondulante,
Vida exalada da espuma...
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E prá ele sempre volto:
para o abraço do amante,
para o colo da mãe,
para o ventre de Deus,
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De onde sempre espero
ser de novo parida,
até que possa juntar morte e vida,
e ir ser como voltar...
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E sabem qual o nome da pousada em que eu fiquei lá? Mar Azul... (No pacote que eu fiz pela TAM viagens nós só ficamos sabendo em qual pousada ficaremos quando chegamos lá)

07/03/2011

8/3 - Dia da mulher... e nada mais feminino do que o mar, que concebeu Afrodite e a trouxe para nós! Odôiá Mamãe Iemanjá!

(Matisse, Femme endormie)
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IMITAÇÃO DAS ÁGUAS
(João Cabral de Melo Neto)
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De flanco sobre o lençol,
paisagem já tão marinha,
a uma onda deitada,
na praia, te parecias.
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Uma onda que parava
ou melhor: que se continha;
que contivesse um momento
seu rumor de folhas líquidas.
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Uma onda que parava
naquela hora precisa
em que a pálpebra da onda
cai sobre a própria pupila.
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Uma onda que parava
ao dobrar-se, interrompida,
que imóvel se interrompesse
no alto de sua crista

e se fizesse montanha
(por horizontal e fixa),
mas que ao se fazer montanha
continuasse água ainda.
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Uma onda que guardasse
na praia cama, finita,
a natureza sem fim
do mar de que participa,


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e em sua imobilidade,
que precária se adivinha,
o dom de se derramar
que as águas faz femininas
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mais o clima de águas fundas,
a intimidade sombria
e certo abraçar completo
que dos líquidos copias.
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Filha de Iemanjá, sereinha é!
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06/03/2011

Uma semana no paraíso (parte 1): a cura!

O último tema que abordei no semestre passado no curso que dei em meu consultório: Alquimia e Arteterapia foi sobre Merlin, Velho Sábio a quem se deve toda a história do Rei Artur, os cavaleiros da Távola Redonda e a busca do Graal. Ao dar essa aula, um fato nessa história me saltou aos olhos:
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“Merlin precisava de tempos em tempos recuperar-se do convívio com a ganância dos homens, na floresta, pois sentia-se enlouquecer, sendo sempre cuidado nesses momentos por sua irmã Ganiedda, que o acalmava com sua música” (nas palavras de Maria Zélia de Alvarenga em seu livro: O Graal)
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Por isso de tempos em tempos ele se recolhia na floresta, para não enlouquecer de vez... Merlin só se curou de sua loucura intermitente quando encontrou uma fonte mágica da qual bebeu...
Então me dei conta de que eu precisava, urgentemente, ir para algum paraíso, a fim de me recuperar da alucinante correria do ano, muito produtivo mas desgastante, pois foi o ano em que eu participei da diretoria da AATESP na organização do Congresso Brasileiro de Arteterapia, que foi na UNIP, além do lançamento dos meus livros vol 4 e vol 5 e da abertura da nova Pós em Arteterapia Aplicada na UNIP...
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Em seguida, no avião, voltando do Congresso Nordestino de Arteterapia, assisti a um vídeo sobre Fernando de Noronha, e logo percebi que lá estava o tipo de paraíso que eu precisava!!! A natureza preservada, respeitada, com um mar azul de tonalidades que eu nunca tinha visto... Quando cheguei em São Paulo, com febre por uma sinusite ocasionada pelo ar condicionado fortíssimo do ambiente do congresso, tive a certeza de que eu precisava mesmo de um paraíso não só para recuperar as minhas forças, mas para recuperar também a minha saúde, um local de cura para meu corpo cansado e de deleite para a minha alma, em que eu pudesse vivenciar um reencontro com a minha essência – pois eu sou mesmo um “bicho do mato”... e viver numa cidade como São Paulo só é possível para mim se eu puder ter momentos em que me recolha em meu santuário interior... Como diz Maria Zélia no mesmo livro:
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“Os cavaleiros de Arthur, através do Velho Sábio, compreendem que o campo
de ação do humano não são mais as guerras de conquistas, mas sim que a grande aventura é a busca da própria alma. A verdadeira tarefa dos cavaleiros é buscar-se a si mesmo.”
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Ao ir atrás de agências de viagem para viabilizar a minha viagem para Fernando de Noronha, todas me diziam que, a essa altura, eu não encontraria mais vagas (eu queria ir no início de janeiro).
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Comecei a procurar então por algum outro paraíso, e na aula seguinte do curso eu perguntei aos alunos se eles conheciam algum paraíso para onde eu pudesse ir em janeiro, a exemplo de Merlin, e uma das alunas me disse: “Eu estou indo para Fernando de Noronha semana que vem”. Então eu percebi que deveria insistir um pouco mais na procura por pacotes de viagem para lá, ela me disse que não era impossível ainda conseguir, e foi o que eu fiz: inisiti com a TAM viagens, que me dizia que não havia mais vagas, e consegui saber que poderia colocar o meu nome na fila de espera e em 48hs eu teria uma resposta, quem sabe alguém cancelaria a sua reserva e eu poderia ir! 48 hs depois, eu estava fechando o pacote, 7 dias no paraíso, na data que eu queria e poderia ir!!!
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E não me enganei: de queixo caído, diante da deslumbrante beleza de cada praia, dos diversos tons de azul do mar, da riqueza da fauna marinha, eu agradecia a Deus várias vezes ao dia por estar ali, por tanta beleza que encantava os meus olhos e extasiava a minha alma! Foram momentos de cura, mas a cura que me é característica: a cura pela “doce medicina”, pelo resgate da doçura e alegria de viver, pelo reencontro amoroso com a alma e através dela sentir-se conectado com a Fonte de onde jorra a Vida...
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Isso significou, entre outras coisas, que o meu corpo respondeu: a minha saúde geralmente é muito boa, graças a Deus, com exceção dessa sinusite crônica que eu tenho desde criança, que é o preço que eu pago por não morar no mato (rs), mas acontece que eu estava há 9 meses com um cisto na gengiva (que latejava como um furúnculo), que os médicos me diziam, ao examinar os exames, que era um cisto de retenção devido à sinusite, e que a solução seria operá-lo, e para essa operação eu teria que tomar anestesia geral!

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Como eu não tenho nenhum plano de saúde, pois optei por gastar o meu dinheiro com procedimentos que me ligavam com a saúde ao invés de gastá-lo já prevendo que um dia eu ficaria doente, eu tinha 2 opções: comprar essa viagem, que não é barata, e investir na minha saúde, ou me internar num hospital e gastar o triplo do que me custaria a viagem nessa cirurgia... Optei pela viagem, e pelos procedimentos não invasivos: fiz 2 sessões de acupuntura antes de ir para Fernando de Noronha, que era o que daria tempo de fazer antes da viagem que já estava marcada, para tratar da sinusite. A acupuntura já me fez sentir bem melhor, comecei a tomar uns florais do Joel Aleixo também, e assim que voltei da minha viagem, pasmem: o cisto que já estava há nove meses em minha gengiva fez uma ponta e drenou! Parece que era uma espécie de furúnculo: eu dizia isso aos médicos, pedia para eles fazerem um furo para drenar a região, mas eles me diziam que não deveria ser pus o que tinha ali, e que só a cirurgia mesmo era o indicado... Mas, pelo sim pelo não, eu fui sozinha para Fenando de Noronha, como uma “cavaleira” em busca do Graal...
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“Existe, então, um recipiente maravilhoso em quase todas as mitologias; ora ele proporciona juventude e vida, ora é curativo ou está imantado de inspiração e sabedoria. (...) Muitas vezes – sobretudo como caldeirão -, ele proporciona transformação e, com esta propriedade, tornou-se particularmente famoso como o vas Hermetis da alquimia.”
(Ema Jung e von Franz, em seu livro: A Lenda do Graal)
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Enfim, a partir dessa viagem, o que estava congestionado, descongestionou, o que não estava fluindo, começou a fluir... E eu voltei às aulas de flamenco, dança do ventre, Yoga...
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“Buscar o Cálice Sagrado é tarefa-destino de cada um. A deusa aguarda por todos, no fundo da floresta encantada. Entretanto, se desejarmos com toda pureza de intenções e nos empenharmos de coração aberto, poderemos alcançar, dentro de nós mesmos, o Templo Sagrado contenedor do Cálice da bem-Aventurança. No dia em que pudermos, como o “puro-tolo-ingênuo”, dizer ao outro que nos procura: “vá até onde fomos e saberás”, deixaremos de contar histórias para nos tornarmos a própria lenda. O Graal espera por todos nós!”
(Maria Zélia Alvarenga, no livro: O Graal)
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